quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A DECISÃO DO COPOM

Nesta quarta-feira, última do mês de agosto, o Comitê de Política Monetária optou por reduzir a taxa SELIC em 0,5%, representando o primeiro corte desde o início do governo Dilma.

Ainda hoje, deparei-me com diversas críticas sobre a decisão tomada, no sentido de uma grande preocupação com as pressões inflacionárias e de a decisão ter sido mais política do que racional. Apesar das críticas, política ou não, concordo e aprovo a redução.

O mercado foi tomado de surpresa, vez que esperava um corte de 0,25% (cujas estimativas já estavam sendo revisadas para baixo), quando na verdade sobreveio um corte além do esperado.

É fato que a decisão eminentemente política é extremamente prejudicial para o sistema como um todo, pois, ao menos à princípio, o Banco Central deveria ser independente. Não é este o caso, ele é autônomo. Há uma diferença sutil, mas de grande relevância. Não é objeto deste editorial, contudo, discorrer sobre as características do Banco Central, mas sim sobre a decisão tomada pelo COPOM nesta quarta-feira e seus possíveis impactos na economia.

Realmente, nos últimos meses a inflação esteve no cerne das discussões, assunto diário na vida dos economistas e administradores. Não é para menos, pois a inflação tem impactos diretos em decisões de investimentos e pode gerar incertezas futuras.

No último ano, puxada por um aumento desenfreado dos gastos públicos, decorrentes, principalmente, de ano eleitoral, além do farto crédito e alto nível de emprego, as pressões inflacionárias eram um tema de alarme para os economistas, vez que o IPCA, índice usado pelo governo para o controle de metas de inflação, superou a meta estabelecida, cujo limite superior foi fixado em 6,5% para os últimos 12 meses acumulados. No entanto, nos últimos meses, a inflação tem apresentado uma tendência de desaceleração, não obstante o último índice do IGPM divulgado ter apresentado ligeira alta. Isto está atrelado a uma diminuição dos preços das commodities no mercado internacional e à crise externa, como se verá mais adiante.

Grande parte dos motivos que embasaram o referido corte advém da crise e nos prováveis impactos que terá no Brasil. Ora, incontestável que as grandes economias mundiais têm passado por dificuldades, que certamente resultarão numa diminuição do crescimento econômico mundial nos próximos anos, podendo, inclusive, haver algumas recessões em determinadas nações, o que agravaria ainda mais o quadro externo. O grande endividamento das nações européias e as dúvidas quanto à capacidade de honrarem suas obrigações deixa os investidores em estado de alerta e receosos quanto aos investimentos que farão.

Assim, pode-se dizer que, nos próximos anos, haverá uma queda no consumo mundial o que, data venia, acredito terá seus impactos em nossa economia. Isto, pois, os Estados Unidos e a Europa são os maiores compradores de produtos brasileiros, excluída a China da equação. Uma queda no consumo tem impacto direto na indústria brasileira e nos grandes produtores de commodities. Ou seja, a crise certamente terá impactos no Brasil, mais profundos do que muitos economistas imaginam.

Outro ponto relevante para o presente debate é a questão “CHINA”. A China já é a segunda economia mundial e o maior importador de commodities brasileiras. Nos últimos tempos, a China tem apresentado um quadro preocupante, com um descontrole da inflação (que supera a casa dos 6% ao mês) e tem apresentado uma tendência de desaceleração em seu crescimento. Boa parte destes fatores é decorrente dos fortes e maciços investimentos em infraestrutura e produção na última década. Porém, a China é um dos, senão o maior, parceiro comercial do Brasil. Após o discorrido, fica patente minha preocupação, vez que uma desaceleração do crescimento chinês representa uma diminuição no comércio bilateral dos dois países.

Por outro lado, a queda na produção dos países desenvolvidos e China tem gerado uma queda nos preços das commodities, o que significa uma queda nos preços dos produtos à elas relacionados, contribuindo, também, para uma diminuição das pressões inflacionárias.

Tais, fatores, somados a outros, poderão representar um grande impacto na Balança Comercial brasileira, o que é um ponto a ser levado em consideração.

O leitor pode estar se perguntando neste momento: Ok, mas qual é a relação disto com a inflação e a decisão do COPOM?

Ora, uma das grandes preocupações e motivo de diversas críticas do empresariado brasileiro são as altas taxas de juros. Sabe-se que os elevados juros tornam investimentos em produção menos atrativos que investimentos de caráter puramente financeiro, o que é péssimo para a indústria e para a geração de emprego como um todo. Ademais, como se viu anteriormente, a crise mundial certamente terá impactos na indústria nacional. Assim, medidas como o Plano Brasil Maior (embora haja dúvidas quanto à sua eficácia) e redução da taxa de juros, representam um forte incentivo à indústria nacional, que investirá mais, se tornará mais competitiva, gerará mais renda e empregos, caso medidas deste tipo continuem a serem tomadas (novos planos de incentivos e redução gradual da taxa de juros).

Por outro lado, a SELIC serve de baliza para as demais taxas de juros praticadas no mercado. Assim, uma redução de SELIC, consequentemente, resultaria em uma redução das demais taxas praticadas, o que tornaria o crédito mais acessível e reduziria o inadimplemento.

Atualmente, o que move o Brasil é seu mercado interno, mais que o externo. O povo brasileiro está mais rico e gastando cada vez mais. Porém, seu nível de endividamento está subindo às alturas, o que poderá gerar uma bolha de crédito. Neste diapasão, novamente, mais do que bem vindo um corte dos juros.

Menos falado, mas não menos importante, é o impacto da taxa de juros na dívida pública e no câmbio. Aqui é onde tudo se relaciona. O Real valorizado (Dólar depreciado) gera um grande impacto na Balança Comercial e desincentiva o empresariado brasileiro a exportar mais, dado que seu produto perde competitividade, por se tornar mais caro no exterior. A flutuação do Real, por sua vez, está intimamente ligada à quantidade de dólares que entram e saem do pais. Assim, numa análise bem simplista, quanto mais dólares entrar, mais o Real se apreciará. Não quero dizer que capitais estrangeiros não são bem vindos, eles são. Mas é importante notar que há, basicamente, dois tipos de capitais, o especulativo e o que vem em forma de FDI (Foreign Direct Investment) ou investimento estrangeiro direto. Este último significa investimento em produção, em indústria e serviços, enquanto o primeiro pode ter efeitos mais nocivos em nossa economia.

O câmbio também é diretamente influenciado pelo nível de reservas brasileiras. Quanto maior o “colchão” ou nível de reservas, mais seguro o Brasil estará diante de adversidades, o que atrai investimentos para o Brasil. O sistema, porém é perverso, vez que os altos juros brasileiros oneram demais os cofres públicos. Explico! O Brasil capta dinheiro à taxa SELIC e aplica às taxas praticadas no mercado internacional, bem mais baixas. Assim, este spread tem um forte impacto nas contas públicas brasileiras. Desta feita, uma redução de SELIC, reduziria este spread, o que traz um impacto fiscal positivo.

Por fim, há a questão fiscal. Em seu primeiro ano de mandato, a presidente Dilma estabeleceu a meta de corte de R$ 50 bi e, mais recentemente, ampliou esta meta em R$ 10 bi. É uma medida ousada e necessária para que o Brasil se desenvolva sustentavelmente. A questão é se estas metas serão efetivamente cumpridas...

Diante do exposto, percebe-se que as pressões inflacionárias tem diminuído nos últimos meses e que uma redução dos juros podem ajudar a conter os efeitos da crise internacional no Brasil, aumentar os investimentos produtivos, equilibrar o câmbio e a atingir as metas fiscais.

Conclui-se portanto, que independentemente de ser motivada por questões políticas ou não, a medida foi bem vinda. O Brasil deve buscar sempre o rumo do progresso e desenvolvimento. Para isto, não pode deixar passar as oportunidades que lhe batem à porta. Os fatores externos, aliados aos internos, geram o clima propício para o início de um ciclo de reduções na taxa SELIC, que não deve ser, portanto, desprezado.

Nota de Rodapé: A meta de inflação é um instrumento de grande importância para a economia brasileira. Porém, não se pode perder a visão do todo e tem que ser buscado o desenvolvimento econômico. As oportunidades estão presentes hoje e podem não estar amanhã. "Estourar" um pouco a meta pode não ser tão prejudicial assim, à luz do que está em jogo. Obviamente, não podemos perder os limites e fazer da política econômica uma "farra dos bois". Inflação preocupa e deve ser acompanhada, e de perto.