terça-feira, 17 de março de 2009

Como os bancos quebraram o mundo!

Hoje eu recebi um e-mail de um grande amigo e seguidor do blog, com uma notícia muito interessante do jornal Valor Econômico, que relata como os bancos contribuíram para o surgimento e agravamento da crise financeira mundial. Ela mostra que há analistas que avisaram as instituições financeiras sobre a possibilidade de uma crise, mas estes foram ignorados, senão demitidos.

Esta reportagem evidencia a ganância dos bancos e a forma como eles desprezaram algumas análises importantes. Isto ocorreu, pois a posição dos bancos antes da crise era muito confortável. Eles se utilizavam de mecanismos financeiros que, aparentemente, reduziam seus riscos e proporcionavam altas taxas de lucro. Desta forma, é muito difícil uma ruptura na postura adotada por estas organizações, o que contribuiu para o agravamento da crise.

Ao ler este artigo, este amigo me enviou a seguinte frase, muito adequada ao cenário apresentado: “achei este artigo simples, mas interessante, mostrando que o primeiro mundo ainda tem muita coisa de terceiro mundo, quando se trata de ganhar dinheiro rápido”.

Decidi postar, abaixo, passagens importantes do artigo em questão, que ilustram esse fato. E-mails como este mostram a importância da comunicação entre leitores e blogueiros, com a intuição de enriquecer o debate sobre temas importantes, tanto para a nossa vida pessoal quanto profissional.

Perdidos em meio à destruição criativa

Há seis anos, Ron den Braber trabalhava no Royal Bank of Scotland (RBS), em Londres, quando ficou receoso de que os modelos de negócios do banco estivessem subestimando o risco dos produtos de crédito. Quando o holandês, especialista em estatística, alertou seus chefes sobre o problema, enfrentou tal desaprovação que acabou deixando o banco.

"Comecei falando de forma gentil, mas ninguém queria ouvir", lembra-se Den Braber. O motivo, acredita, está no "pensamento de grupo", como se costuma chamar o conformismo de acompanhar-se o comportamento da maioria, "e na pressão para se completar os negócios", assim como na completa falta de entendimento sobre como os modelos funcionavam.

Histórias dessa natureza explicam até certa parte como grandes bancos ocidentais levaram a si mesmos a se enredar nos atuais apuros e inclinaram o mundo em direção a uma recessão.

Certamente, não há falta de possíveis réus: ganância despudorada, regulamentação complacente, política monetária demasiado solta, captações de créditos fraudulentas e fracasso administrativo desempenharam, todos, algum papel (assim como em períodos anteriores de ascensão e queda).

Outro problema também participou da cena: a extraordinária complexidade e opacidade das finanças modernas. Durante os últimos 20 anos, uma onda de inovação remodelou a maneira como os mercados funcionam de uma forma que parecia capaz de trazer grandes benefícios a todos os envolvidos. Estas inovações, no entanto, tornaram-se tão intensas que superaram a capacidade de compreensão da maioria dos executivos comuns de banco - para não citar as autoridades reguladoras.

Como resultado, não apenas o sistema financeiro foi assolado por perdas de uma escala que ninguém conseguiu prever, como os pilares de fé sobre os quais este novo capitalismo financeiro foi erigido praticamente desmoronaram. A situação deixou a todos, de ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais a pequenos investidores e aposentados, privados de uma bússola intelectual, atordoados e confusos.

O resultado foi que o conjunto de inovações que supostamente criaria mercados mais livres, na verdade, produziu um mundo obscuro, no qual o risco estava sendo concentrado - e de formas que quase ninguém entendia.

A verdade brutal, no entanto é que até os mercados financeiros voltarem a estar à altura de seu nome - tornaram-se mercados em que os ativos são negociados e avaliados de uma maneira fiável - será difícil reconstruir a confiança dos investidores. Não por acaso, a raiz da palavra crédito vem do latim "credere", que significa "acreditar".

Os últimos 12 meses mostraram que, sem fé, as finanças não valem nada. Reconstruir esse senso de confiança poderia levar bem mais tempo do que isso.


Fonte: Jornal Valor Econômico, 13/03/2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário